Vampiro Ashley Okamoto

Vampiro Descrição

RECOMEÇO

Minha voz emudeceu, ou será que meus tímpanos já não registram meus gritos? Não sei quantos dias se passaram desde nosso último encontro, mas, para mim, o tempo apenas enfraquece nossos sentimentos, mas não os muda, sejam eles bons ou ruins e, definitivamente, o que sinto é ruim.
Meus lábios roucos continuam a se mover, porém seu nome sai apenas sussurrado, sem força para ecoar muito além de minha própria boca. Lentamente meu corpo está se recuperando e minha pele se fechando. Meus retalhos lacerados pela sua mandíbula apodreceram como carne velha e o que sobrou dentro de mim está se coordenando para formar um novo sistema. Morta eu já estou, não preciso mais de um fígado inteiro, de um pâncreas e até mesmo um estômago é, em último caso, dispensável para minha sobrevivência. Sorte a minha não ter perdido este último, pois sobreviver é para animais. Eu quero voltar a Viver, a empunhar uma arma e a direcionar meu recém adquirido desdém por qualquer relação interpessoal aos que cruzarem meus caminhos.

...

Dia após dia tenho me levantado para testar meu corpo e sua nova configuração. Minhas roupas tornaram-se bandagens improvisadas para segurar o que sobrou dentro de mim: partes de um intestino, talvez um dos rins, um estômago rasgado e um fígado pela metade. Na escuridão da gruta que me encontro não posso ver meu reflexo para avaliar o novo visual, mas com pouco esforço posso pôr as mãos sobre meu abdômen e sentir minhas vértebras então imagino que farei inveja a qualquer vampira saudosa pelos espartilhos do séc. XIX.
Não sei se a palavra é essa, mas em minhas orações para Cain, Peço para que a resiliência de Raziel habite em mim, visto que esse antigo irmão também se perdeu no orgulho e acabou ostentando um corpo físico bem similar ao estado que me encontro. Resiliência é o que minha mente precisa para que não desapareçam as memórias daquele dia.
Durst, não será o tempo que irá apagar meu desgosto por você e aquela coitada. Não será o tempo que irá me fazer esqu......
 
O PÂNICO DO REENCONTRO
https://www.youtube.com/watch?v=bzT2pEr87S4

Esse cheiro... Semanas, meses, talvez um ano passado enquanto estou entocada nessa pedra...
Esse cheiro... Justo agora que encontrei um local seguro, onde nada podia me afetar a não ser o aperto do pequeno espaço...
Esse cheiro... Realmente não posso escapar? Escapar desse relacionamento miserável que me rasga por dentro LITERALMENTE...
Esse cheiro... E de uma hora para a outra as memórias voltam a me perseguir. É hora de reviver a verdadeira Ashley, o desastre completo que sou? Trazer à tona os tantos sentimentos angustiados que vivi todo esse tempo e até então estavam trancados como um animal para que não voltassem à tona.
Esse cheiro... Sangue seco... Faz com que meu rancor inunde meu ser e comece a extravasar pelos pontos improvisados que fiz para costurar minha pele. A lembrança das minhas últimas palavras invade minha memória querendo explodir em um grito de ódio que guardo dentro de mim.
Por tanto tempo estive só, me recompondo, sem que qualquer um tenha se dado o trabalho de me procurar. Rejeitada.
Esse cheiro... O medo toma conta e domina minhas ações, envenena minha racionalidade e me torna refém do passado e das sensações que tive nesses últimos nem sei quanto tempo. Pelo jeito fugir não é uma opção já que essa lembrança continua a me atormentar.
Esse cheiro... Será? Não é possível que tenha voltado. Talvez para finalizar o que iniciou? Talvez por ser o único que ainda não me rejeitou? Não... NÃO! Ele foi o Último que me rejeitou. Isso definitivamente aconteceu e eu não quero esperar para saber o que ele quer.
A terra úmida da gruta vai ser minha fuga, já que pela porta ele com certeza me sentirá. Com minhas unhas desgastadas começo a cavar o solo, tentando cavar minha saída pelo centro da terra. O começo leve da escavação não me preparou para a agonia que viria. Pedras e raízes atravessam o caminho de minhas mãos enquanto minhas unhas fracas vão sendo arrancadas uma a uma pela resistência oferecida pelos obstáculos.
Aguento calada cada corte. Ele não pode me ouvir, Ele não pode sentir o cheiro de meu sangue, não pode me encontrar.

-ash!..

Calafrios percorrem minha nuca ao ouvir a voz dele distante do lado de fora da gruta. Tenho pouco tempo pra escavar um túnel longo. Vou ter de ficar por aqui mesmo.
Pensa, pensa, pensa... Ao redor vejo uma grande pedra solta e a ideia se forma. Escavo com mais vontade uma cova rasa, arrasto a rocha até perto do buraco e me deito dentro dele. Começo a jogar a terra em meu corpo, me enterrando na terra úmida para disfarçar meu cheiro.

Ash...!

Ai caralho... ele tá chegando mais perto. Cubro o que consigo, me agarro na grande pedra e me deito na cova, rolando a pedra para cobrir meu corpo e deixar um pequeno espaço apenas para que eu possa ouvir caso haja alguma emergência.

Um uivo...

Espero que seja de tristeza e não um chamado... Não sairei daqui tão cedo.
Adeus Sr. Durst.

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