Lobisomem O Tribunal

Lobisomem Descrição

Nasceu da carne de um bravo cristão,
E do ventre de bruxa, marcada em maldição.
Luz e trevas no mesmo sangue a pulsar,
Um filho negado por onde ousasse andar.

Tinha olhos de oceano em dia de vendaval,
Verde e azul se fundiam num tom celestial.
Cabelos de ouro queimado ao sol do pecado,
Mas o mundo o olhava com desprezo calado.

Era belo, era forte, mas nunca bastou,
Pois do ventre da bruxa o destino brotou.
Nem o pai o quis nos corredores da fé,
Nem a mãe, de seu clã, teve voz ou poder.

Andava sozinho, alma em penar,
Querendo um toque, um olhar, um lar.
Tamanha era a fome de ser amado,
Que aceitaria até um beijo profano e alado.

“Se for demônia e me quiser,
Que me arraste ao inferno e me faça esquecer…
…essa vida de sombras, essa dor sem fim,
Quero amor, mesmo que seja o meu fim.”

Mas ninguém o quis, ninguém o tocou,
A lua assistia enquanto o mundo o negou.
Até que uma noite, de prantos e dor,
O sangue ferveu com estranho ardor.

Veio o uivo — veio a fúria — veio a pele rasgar,
Veio a besta no peito a despertar.
Veio o instinto, o dente, a garra e a ira,
Veio a lua cheia e queimou-lhe a alma fria.

Um lobo ergueu-se da carne do homem,
Não mais um filho rejeitado sem nome.
Mas sim um monstro que caminha sozinho,
O “Tribunal” — juízo do destino.

Caía sobre vilas como o aço da espada,
Contra os injustos, sua justiça era selada.
Nem o padre ousava citá-lo na missa,
Pois até os santos temiam sua premissa.

Julgava com uivos, sentenciava com garras,
Onde havia mentira, fazia ruínas e farpas.
Muitos o odiavam, outros o temiam,
Mas os inocentes em segredo o bendiziam.

Não era o herói que os bardos cantavam,
Mas era o que à noite os demônios evitavam.
Pois quem fere um coração que só quis amor,
Recebe em dobro a marca da dor.

Hoje seu nome ecoa nas florestas e além,
"O Tribunal" — meio homem, meio além.
Nem demônia ousou seu peito tocar,
Pois até o inferno tem medo de amar.

Mas quem ouve seus uivos nas noites de luar,
Diz que a dor ainda pulsa, que ele quer amar.
E talvez um dia, por graça ou ironia,
Alguém veja o lobo… e lhe ofereça poesia.

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