Lobisomem Ramon Ramirez

Lobisomem Descrição

A lua já brilhava atordoante no horizonte, lua que nesses cantos esquecidos, ficava assim um tempão, vigiando pela beirada as asnices que o bicho homem faz. Mas nem só de lua as histórias eram escritas por lá, nesse pequeno vilarejo, se contava e até se cantava a história do velho Ramirez, um velho muito velho que vivia numa cabaninha perto do fim do riacho das Peritas.

Diz a boca miúda que Ramirez chegou por ali um pouco antes dos portugueses, diz também que ele vivia com os índios até eles serem todos mortos, também fala que Ramirez é um velho beberrão. Mas o mais extraordinário que se conta, é que Ramirez é um lobisomem.

Sempre essa mesma lua que hoje nos vigia surge no céu, Ramirez surge na vila, vem andando com seu sorriso largo, meio louco, mas de dentes perfeitos, seu andar é meio curvado e seu olhar parece não perder nada. Ele vem caminhando, cumprimentando quem passa pelo caminho, sorrindo elogios e apertando mãos suadas pelo dia de trabalho. Ramirez sempre vai até o bar do seu Arlindo, que fica no fim da rua comprida que corta o vilarejo, come torresmo, bebe uma ou duas pingas e escuta atento todas as loucas histórias que os amigos tem pra contar. Sempre sorrindo ele fica lá até o último sair, tomando mais uma ou outra pinga e depois segue seu rumo.

Nesses dias, a paz reina pela região, as colheitas parecem crescer mais forte depois dessas visitas, as mulheres parecem cuidar melhor dos seus pequenos e até as missas do Padre Arnoldo são mais leves e alegres. E ninguém parece ligar para as galinhas que as vezes desaparecem, porque por ali, todos sabem que perigoso mesmo é o bicho homem, com suas doidices e idiotices, no bicho Ramirez todos podem confiar, é só pagar uma ou duas biritas e contar uma boa história que tudo se resolve.

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